quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Cheiro a livro novo - Janeiro de 2014


Uma pobreza franciscana. Assim se pode descrever este início de ano em termos editoriais. Poucas novidades e as saídas mais mediáticas não foram as de livros, mas antes a de Saramago e João Tordo da Leya (Saramago entretanto já acolhido na Porto Editora).

Se há algum esforço na Leya para que não seja óbvio que as coisas não andam bem, será certamente muito tímido. Basta olhar para o que as novidades das editoras do grupo em Janeiro e percebe-se que os tempos não estão para grandes investimentos. Digna de nota, portanto, apenas a reedição da “Antologia Poética” de Miguel Torga pela Dom Quixote. Mas, conselho de amigo: se querem comprar poesia do Torga, ainda circula por algumas lojas uma edição da poesia completa do autor, com 2 volumes num único pack, e cujo preço é pouco maior do que o desta antologia.

Falando ainda de autores portugueses, a Tinta da China publicou “Traição”, uma peça de teatro de Luís Mário Lopes, vencedora do Prémio Luso-Brasileiro de Dramaturgia António José da Silva. Saúde-se o regresso da Tinta da China à ficção, e particularmente à portuguesa, após uma grande leva de não-ficção. Quem ficava bem entregue nas suas mãos era o João Tordo, mas a ver vamos o que o futuro reserva. Destaque também na Tinta da China para um novo livro da colecção de literatura de viagens, “Hav” de Jan Morris, o segundo livro do autor nesta colecção e que foi finalista do Booker Prize.

Também finalista do Booker Prize, em 2013, foi “Planície” de Jhumpa Lahiri, que a Relógio D’Água se prepara para editar. Mas a Relógio D’Água nunca esquece os clássicos e este mês iniciou a publicação das "Obras Escolhidas" de Virgínia Woolf, em capa dura, juntando num único volume 4 dos seus livros mais conhecidos: “Orlando”, “As Ondas”, “Mrs. Dalloway” e “Rumo ao Farol”.

E, por falar em clássicos, a Quetzal anunciou para breve o início de uma colecção de clássicos, que será inaugurada por “Anatomia da Melancolia” de Robert Burton e “Páginas Escolhidas” de Samuel Johnson. Para já, a Quetzal editou um clássico mais moderno e que desde o fim da Difel estava afastado das livrarias. Falo de “Nove Histórias” de J. D. Salinger.

Com tanta ficção, que tal um livrinho de não-ficção para desenjoar? A Antígona inicia o ano com o ensaio de CondorcetReflexões sobre a Escravidão dos Negros” e “A Escravatura – Subsídios Para a Sua História” de Edmundo Correia Lopes. A ver vamos, que outras novidades terá a Antígona preparadas para 2014.

domingo, 26 de janeiro de 2014

A dependência dos livros: edição Janeiro de 2014


Janeiro é mês de saldos e os livros não escapam à tradição. Foi portanto altura para fazer compras estratégicas, avaliando os níveis de desconto em cada obra e identificando aquelas que compensava mais serem agora compradas. Rendi-me aos preços mínimos da Fnac, como habitualmente, e comprei 3 livros que normalmente me custariam cerca de 75€, mas pelos quais paguei 35€ (para além preço de saldo dos livros, tinha também um desconto de 7€ suplementar, que veio mesmo a calhar). Não contente em comprar de 2 livros que são absolutos clássicos, depois de alguma análise decidi-me também por “Palavras/Paroles” de Jacques Prévert, editado pela Sextante, por ser um dos 100 livros do século XX, de acordo com o Le Monde, ao que acresce o facto de ser um livro por norma caro e eu estar empenhado numa aproximação à poesia.

Ainda completamente embevecido pelas minhas compras de Natal na The Folio Society, não pude ignorar os saldos de Ano Novo e encomendei o “Heavy Weather” de P. G. Wodehouse, escritor que em tempos teve livros traduzidos em Portugal, editados pela Cotovia, mas que entretanto desapareceu por completo dos catálogos das editoras. Para além do livro estar a apenas 14 libras, encontrava-se também em fim de edição, sendo a minha cópia uma das últimas 200. Lamento mas esta edição já não a vão poder comprar!

Deixo-vos com a minha lista de aquisições do mês:

 “O Castelo” de Franz Kafka, Relógio D’Água
Doutor Jivago” de Boris Pastermak, Sextante
“Heavy Weather” de P. G. Wodehouse, The Folio Society

Palavras/Paroles” de Jacques Prévert, Sextante

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Como publicar um conto na Granta


O Natal já passou, mas pelos vistos a Granta reservou um mega presente para alguns felizardos e criou um desafio que permitirá a jovens escritores de língua portuguesa (nascidos após 1 de Maio de 1975) terem os seus contos publicados numa edição especial da revista, à semelhança do que já é tradição na edição inglesa.

Segundo Carlos Vaz Marques "no mundo de língua inglesa, o número especial que, de dez em dez anos (desde 1983), é dedicado aos "twenty under forty" já é um marco, tendo ajudado à projecção de autores como Julian Barnes, Martins Amis e Kazuo Ishiguro. A nossa ambição é fazermos o mesmo para a língua portuguesa."

Jovens escritores talentosos do mundo lusófono eis a vossa oportunidade. Submetam o vosso conto, com um mínimo de 10 mil caracteres e um máximo de 50 mil, até 31 de Julho e arrisquem-se a vê-lo publicado na revista que chegará aos escaparates em Maio de 2015. Já tinha referido que esta edição será também traduzida para inglês e distribuída além fronteiras?


Podem consultar o regulamento aqui.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Em discussão: Obras póstumas, uma questão moral


Os últimos anos têm sido pródigos em polémicas em torno da publicação de obras póstumas. Primeiro foi “2666” de Roberto Bolaño, que o autor, sabendo que iria morrer, determinou que deveria ser publicado em cinco partes, de forma a garantir o sustento da sua família. O seu desejo não foi atendido e o livro foi publicado num único e colossal volume. Depois foi a vez de “The Pale King” de David Foster Wallace, obra inacabada aquando do suicídio do autor e cuja publicação seria um dos acontecimentos literários de 2011. Mais recentemente, o nome de J. D. Salinger tem estado na ordem do dia por três contos seus terem sido divulgados nos últimos meses de 2013, contra a sua vontade, vindo ainda a lume informações que apontam para a publicação de vários livros do autor até 2020, não se sabendo em que estado estariam no momento da sua morte, nem se seria essa a sua vontade.

Sendo um livro uma obra que requer profunda reflexão e ponderação do escritor, a publicação de inéditos após a morte levanta desde logo um problema de controlo sobre aquilo que chegará às mãos do público. E se isso pode ser um problema em obras terminadas, é algo determinante nas inacabadas, questão problematizada num excelente artigo do Huffington Post com o auto-explicativo título “Death Becomes Them: The Imperfect Art of Posthumous Publishing”. Dito isto, há obras póstumas que adquiriram um estatuto de lenda, caso de “Margarita e o Mestre” de Mikhail Bulgákov e de “O Castelo” e “O Processo” de Kafka, que deu indicações explícitas para que os manuscritos fossem destruídos depois da sua morte. No que ficamos então? Publicar ou não publicar, eis a questão.



Obras inacabadas e recolhas de escritos privados


A morte é sempre um momento injusto e cruel, mas ainda o é mais se a pessoa em causa for um escritor. Meses investidos numa obra, que depois é deixada a meio e que quase de certeza será publicada na sua forma imperfeita, manchando anos de trabalho cuidado. É a isso que um autor se arrisca quando morre inesperadamente, sem oportunidade de organizar a sua morte. Imagino Coetzee, conhecido pelo seu perfeccionismo, à noite a dar voltas na cama e a pensar “e se eu morro e publicam todos os meus papéis, sem que eu possa rever até à exaustão cada linha, cada sinal de pontuação!” Pode parecer hiper-dramático, mas pensando bem sobre o assunto, publicar obras inacabadas de um autor é um acto no mínimo arriscado, isto para não dizer peremptoriamente que poderá ser um atentado ao seu legado.

Não concordo com a publicação de livros nestes termos. Uma obra inacabada não é uma obra, é uma potencialidade, e não me parece que seja muito relevante para os leitores ficarem a conhecê-la. Se a publicação destas obras faz um favor a alguém, será certamente aos herdeiros dos escritores e as editoras, movidos muitas vezes por interesses outros que não o de preservar a memória do autor. O mesmo se aplica, na minha opinião a escritos de cariz privado, nomeadamente a compêndios de cartas escritas a familiares. Que sejam consultadas por biógrafos, faz sentido, mas serem publicadas como um livro per si, não me parece que seja produtivo.

Tive uma experiência particularmente má com um livro inacabado: “ Súplicas Atendidas” de Truman Capote, editado em Portugal pela Dom Quixote. É verdade que durante décadas se ouviram histórias sobre este livro, de que Capote falava abertamente e em todas as oportunidades que tinha, e que por isso foi adquirindo um estatuto de mito, que se acentuou com a morte do escritor. A verdade é que Capote parece ter desenvolvido mais a história na sua cabeça do que em papel, pelo que, quando se procurou o manuscrito, o que se conseguiu encontrar foram três capítulos acabados, ainda por cima não sequenciais. Os capítulos são interessantes? São. Justifica-se a sua publicação? Não. Lendo “Súplicas Atendidas” não ficamos com a menor ideia de que tipo de livro Capote criaria caso tivesse tido a oportunidade de o acabar. Então, para quê publicar algo assim? E se a publicação nos Estados Unidos me parece uma decisão caricata, mais caricata me parece a decisão de uma editora portuguesa de traduzir um livro destes para português, como se não houvesse mais nada interessante para publicar. Talvez não tenham reparado que se contam pelos dedos os livros de Balzac que se conseguem encontrar nas livrarias.

Um caso mais complexo é o do “Livro do Desassossego” de Fernando Pessoa, ou melhor, de Vicente Guedes e Bernardo Soares, segundo a edição da Relógio D’Água da responsabilidade da Teresa Sobral Cunha. Os méritos literários do livro são inquestionáveis e a qualidade do trabalho de investigação de Teresa Sobral Cunha acima de qualquer suspeita. Não obstante, acho que há um esforço para apresentar tudo o que Pessoa escreveu destinado ao livro, ou que ponderou incluir, sem uma visão mais crítica de editor e sem olhar para o livro na perspectiva do leitor. Há no livro momentos de profunda genialidade, muitos, mesmo porque genialidade não era algo que faltasse a Pessoa, mas também há muita redundância, textos que talvez não precisassem de estar lá. Quem sabe que “Livro do Desassossego” Fernando Pessoa pretendia escrever?



Obras completas inéditas


No caso de obras completas, a primeira questão a fazer é: qual a vontade do autor. Se o autor expressou o desejo de que a obra fosse publicada, e se definiu de que forma o deve ser, não há questão para debate (parece-me muito estranho que o desejo do Bolaño não tenha sido respeitado).

Os problemas começam quando não há nenhuma indício daquilo que o autor queria ou se os seus desejos vão no sentido da não publicação. É neste ponto que algumas vozes se levantam e dizem “o público tem direito de conhecer a obra dos escritores que venera”. Não, não tem. Tem o direito de conhecer aquilo que o escritor quer. Mas nestes casos deve haver um elemento a considerar: o valor literário da obra. Em casos excepcionais, feita uma avaliação ponderada dos manuscritos, se se chegar à conclusão de que se está perante uma pérola da literatura, de uma obra que não pode ser ignorada, e sendo da competência dos herdeiros gerir o legado literário do escritor, não me choca que ocorra a publicação. Mas se se está perante uma obra inferior, na qual o escritor não se revia, que razão no mundo pode justificar a sua publicação?

É imperativo que quem tem o poder de decidir sobre estas matérias, decida em nome dos interesses da memória de quem produziu o trabalho e não de acordo com o que é mais conveniente para si próprio, o que em última análise pode significar a diferença entre a imortalidade de uma obra e a sua desvalorização.

domingo, 19 de janeiro de 2014

O que é que a Granta tem? “Gente famosa” de Orhan Pamuk


Personagens que em pouco mais de 20 páginas ganham vida própria, são movidas por vontades, têm carne e osso, não sendo meras criações unidimensionais de um escritor que lhes indica o caminho que vão percorrer. As personagens de Pamuk andam pelos seus pés, e o escritor acompanha-as, registando os seus percursos, eternizando na escrita as suas vidas. E é essa a magia de um conto no qual não acontece nada de notável, mas que no pulsar dos pequenos momentos inscreve no leitor impressões profundas.

Através de Pamuk ficamos a conhecer a história de dois irmãos que, noutros tempos mais simples, se entretinham a brincar com cromos de pessoas famosas que saíam nas pastilhas elásticas. Entre os jogos do “Cima ou Baixo”, que lhes permitiam ir trocando cromos, há uma tragédia familiar que se vai discretamente desenrolando: o pai das crianças parece ter abandonado a família. Ali, um dos irmãos, pelos olhos de quem vemos a história, estando consciente da ausência do pai, como criança que é, está mais preocupado em desafiar o irmão e completar a sua colecção de cromos. E enquanto a mãe sofre com a partida do marido, Ali sofre com a perda dos seus cromos para o irmão.

Esta foi a minha primeira leitura de Orhan Pamuk, Prémio Nobel da Literatura, e não poderia ter ficado com uma melhor impressão. Mais do que procurar cenários novos, Pamuk apresenta-nos o que nos é familiar, mas sobre um novo ponto de vista. Sem grandes artifícios. Sem esforço para surpreender. Apenas partilhando vivências. Um autor a descobrir.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Em estado crítico: "Peter Pan and Wendy" de J. M. Barrie


“Adventures, of course, as we shall see, were of daily occurrence; but about this time Peter invented, with Wendy’s help, a new game that fascinated him enormously, until he suddenly had no more interest in it, which, as you have been told, was what always happened with his games. It consisted in pretending not to have adventures, in doing the sort of thing John and Michael had been doing all their lives: sitting on stools, flinging balls in the air, pushing each other, going out for walks and coming back without having killed so much as a grizzly. To see Peter doing nothing on a stool was a great sight; he could not help looking solemn at such times, to sit still seemed to him such a comic thing to do.”


Piratas manetas, crocodilos esfomeados, fadas ciumentas e irascíveis e crianças perdidas que vivem longe de adultos não são o que primeiro nos vem à cabeça quando pensamos em histórias infantis. Talvez por ser tão fora da norma, “Peter Pan and Wendy” de J. M. Barrie tornou-se num dos clássicos mais incontornáveis da literatura, relatando uma aventura passada numa terra a que se chega voando, virando na segunda estrela à direita e continuando em frente até de manhã.

Os heróis querem-se corajosos, humildes e bondosos. Será inegável que Peter Pan tem um bom coração e coragem de sobra, mas não há nele sinal de humildade. Incorporando a ideia de infância, Peter é irrequieto, arrogante e egoísta, características que, sendo os seus principais defeitos, são também o que lhe confere o seu atractivo e seduz todas as crianças com quem se cruza. Peter tem a liberdade que as crianças desejam ter para fazer tudo o que quer, e empenha-se muito em afirmar a sua não necessidade de ter uma mãe. Mas a verdade é que continua a voar recorrentemente para longe da Terra do Nunca, em busca de uma mãe que perdeu no passado. É numa dessas viagens que encontra Wendy e os seus irmãos que decidem acompanhá-lo nas suas aventuras.

A história de Peter Pan é, acima de tudo, uma história de perda. Wendy, a única mulher do grupo, representa para os meninos perdidos um símbolo de união e família e todos a tratam como sua mãe, papel que Wendy abraça sem hesitação. E com o passar do tempo, à medida que o esquecimento vai tomando conta de todos, já quase sem qualquer recordação da vida anterior à Terra do Nunca, é nas histórias de Wendy sobre a sua família, de que ela própria se começa a esquecer, que todos vão reencontrando o desejo de terem pais. Por muito mágica que a Terra do Nunca seja, com a sua capacidade de perpetuar a infância, a verdade é que as crianças facilmente trocariam as suas liberdades e aventuras pela vida normal que tinham .

Falar de Peter Pan é sinónimo de falar da Sininho e do Capitão Gancho, duas das personagens mais carismáticas da literatura infantil. Sininho é uma fada quase microscópica, que é tudo aquilo que esperávamos que uma fada não fosse. Muito focada em si própria e no seu amor não correspondido por Peter Pan, Sininho é quase uma mosca irritante e cruel que zune em torno deles. E para líder dos piratas, o Capitão Gancho apresenta também características inusitadas: bem-falante, elegante e asseado. Não fosse o gancho a substituir o braço comido pelo crocodilo e não haveria nesta figura qualquer sinal de perigo. Até o principal ajudante do Capitão Gancho é descrito como uma figura que todos consideram carinhosa.

O inesperado assume-se assim como uma das principais armas de J. M. Barrie que, pelas características das personagens, mas também pela forma como escreve, confundindo o realismo e o fantasioso com toda a naturalidade, torna surpreendente a leitura da história de Peter e Wendy. E no final há a melancolia, a última das perdas: a da infância. Wendy crescerá. Peter, sujeito às regras da Terra do Nunca, permanecerá para sempre criança. E os seus caminhos, que pareciam ligados pelos mais fortes dos laços, acabarão por se separar. Peter tornar-se-á em pouco mais que uma recordação distante. Quem sabe se até isso deixará de ser um dia? Aconteça o que acontecer, o tempo irá passar, e com ele se destruirá o fabuloso mundo da infância. E Peter Pan ficará apenas como uma lenda. Sozinho. Algures na Terra do Nunca ou na janela de novas crianças que anseiem por sonhar.


Esta edição da The Folio Society complementa a inesquecível história escrita por J. M. Barrie com ilustrações de uma simplicidade e beleza emocionante. Um livro para guardar e passar de geração em geração, como se deve fazer aos tesouros.

Classificação: 18/20

sábado, 11 de janeiro de 2014

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O que vou ler em 2014

O início de um novo ano é por norma altura de fazer planos, definindo aquilo que se espera conseguir obter nos próximos 12 meses. Regra geral, a minha sequência de leitura segue um sistema rígido, em que os livros são lidos pela ordem em que foram comprados. Mas no último ano comecei a abrir excepções, o que normalmente já fazia para os livros que me ofereciam no Natal e no aniversário, mas que comecei a fazer também para outros livros que por alguma razão queria ler. Há assim um maior espaço à espontaneidade nas minhas leituras, não obstante é com grande facilidade que elenco 10 livros que vou ler em 2014.

“O Barril Mágico” de Bérnard Malamud, Cavalo de Ferro



“Um Bom Homem é Difícil de Encontrar” de Flannery O’Connor, Cavalo de Ferro

 


“Uma Barragem Contra o Pacífico” de Marguerite Duras, Difel



“O Evangelho Segundo Jesus Cristo” de José Saramago, Caminho



“A Pianista” de Elfriede Jelinek, Asa



“Contos Completos” de Lydia Davis, Relógio D’Água



“O da Joana” de Valério Romão, Abysmo



“A Filha do Coveiro” de Joyce Carol Oates, Sextante



“Os Escritores (Também) Têm Coisas a Dizer” de Carlos Vaz Marques, Tinta da China



“Gente Feliz com Lágrimas” de João de Melo, BIS


Os 5 melhores livros que li em 2013

O facto marca sem sombra de dúvida a minha relação com a literatura em 2013: a descoberta do género conto. Já tinha lido livros de contos anteriormente, e tinha ganho um maior interesse pelo género com “A Vista de Castle Rock” de Alice Munro, mas foi com a Granta que a viragem definitiva se deu e, apesar das reticências inicias, estou conquistado e adivinham-se bastantes leituras nesse campo para 2014. Mas de 2014 falaremos nos próximos dias. Para já deixo-vos com a lista dos melhores livros que li no ano que passou.

Como já devem ter percebido, as minhas leituras não são ditadas pelo que vai sendo editado. Há demasiados livros bons para serem lidos para a pessoa se focar só no que é novo. Ser-me-ía  por isso impossível fazer um top de livros editados em 2013. Mas como a literatura é das formas de arte que melhor resistem à passagem do tempo, entre os melhores livros que li há desde obras-primas do século XIX, até livros editados em 2013. Para mim, 2013 foi isto.


5. “Fiapos de Tempo” de Ana Maria Vilhena, Vírgula



 Através de “Fiapos de Tempo”, a meio termo entre a biografia e o romance, revisitamos as memórias dos nossos avós e dos seus antepassados, reconhecendo-os nas personagens e comportamentos tão tipicamente alentejanos que nos surgem em cada página. De uma escrita natural, que na sua aparente simplicidade esconde a mestria de quem fez da língua portuguesa a sua vida, a leitura de “Fiapos de Tempo” faz-se com o mesmo prazer com que lemos os clássicos da nossa literatura. Ler o texto completo.


4. “O Moinho à Beira do Floss” de George Eliot, Relógio D’Água




Em “O Moinho à Beira do Floss” Eliot recria um bucólico mundo campestre, habitado por personagens imperfeitas que tentam viver num mundo cheio de expectativas. Entre estas personagens, constrangidas pelo socialmente aceite, surge a figura da impulsiva e arrebatada Maggie Tulliver, que aos olhos da nossa época é uma simples rapariga romântica, mas que, no pacato mundo banhado pelo rio Floss, é uma rebelde que ousa juntar aos quatro verbos que lhe foram destinados (nascer, casar, parir, morrer) um quinto: amar. Ler o texto completo.


3. “Fugas” de Alice Munro, Relógio D’Água



A vida tem uma forma incontrolável de nos afastar do nosso potencial. Uma força violenta e indestrutível que nos arrasta para caminhos que não são aqueles que queremos percorrer, sem que nada possamos fazer para o evitar. Alice Munro percebe isso melhor que ninguém, a crueldade de vermos desde cedo os nossos planos comprometidos, porque por muito que corramos, nada mais encontraremos do que aquilo que nos está reservado. E essa é uma moral que percorre os oito contos que compõem este livro. Ler o texto completo.


2. “Peter Pan and Wendy” de J. M. Barrie, The Folio Society


 

O último livro que li em 2013 transportou-me para o fabuloso mundo de Sininho, Capitão Gancho e os Rapazes Perdidos, um mundo em que a infância nunca termina, em que há sempre aventuras a serem vividas. Mas por maiores que pareçam os perigos da Terra do Nunca, o maior ameaça está longe dela: crescer e esquecer-se de quando se era uma criança. Publicarei nos próximos dias uma análise completa a este livro.


1. “A Sibila” de Agustina Bessa-Luís, Guimarães Editores



Da rudeza nobre da terra brotam os génios difíceis de gente forte. Quina e Estina, duas faces duma mesma alma, ambas duras, uma clarividente, a outra propícia a sofrimentos calados. Cedo conheceram as vias árduas do destino, sempre marcadas pela efemeridade, pela necessidade de não se apegarem àquilo que não podem conservar junto a si. Perderam um irmão, testemunharam as dores de sua mãe, traída por um homem galanteador, o pai das duas, que também cedo partiria. A própria Quina tem a sua vida em risco na juventude. Mas é Estina quem sofre as mais duras perdas, talvez por ser a mais fraca, a que mais deseja acreditar na possibilidade do amor. Primeiro é abandonada pelo homem que ama. Depois vê morrer, um após outro, todos os seus filhos. E é no seu estóico sofrimento que Estina vence Quina. Estina conhece o amor, Quina nunca o conseguirá. Ler o texto completo.